Joan Miró nasceu em
Barcelona, 20 de abril de 1893, na cidade de Palma de Maiorca. Miró foi um
importante escultor e pintor surrealista catalão.
Quando criança, na
escola, era apelidado de "cabeçudo", por ser considerado o garoto
mais abobalhado entre os colegas. Passava o tempo desenhando ou colecionando
pedras e plantas. A contragosto, o senhor Miguel Miró Adzerias permitiu que o
filho, aos 14 anos, ingressasse na Escola de Belas Artes de Barcelona. Mas o
jovem não chegou a esquentar os bancos da instituição. Insatisfeito com o
currículo essencialmente acadêmico deixou de frequentar as aulas.
O pai de Miró
convenceu-se de que o rapaz era um caso perdido. Obrigou-o então a se empregar
como guarda-livros em uma drogaria e disse que ele precisava começar a planejar
o próprio sustento. Resultado: a pressão e a rotina burocrática do trabalho
levou o jovem Miró a uma crise de depressão, que veio acompanhada de febre
tifoide.
Foi durante o período
de convalescença, numa fazenda da família em Montroig, nas montanhas da
Catalunha, que Miró decidiu levar adiante, apesar das resistências paternas, o
projeto de ser artista. Ao retornar a Barcelona, passou a frequentar o ateliê e
escola de arte de Francisco Gali, a partir dos quais passou a travar contato
com o mundo artístico e boêmio da cidade. Apesar disso, seu comportamento
arredio e introvertido nunca lhe permitiu acompanhar os colegas nas costumeiras
incursões madrugada adentro.
Por volta dos 25
anos, em 1919, decidiu mudar-se para Paris, onde as vanguardas dominavam o
cenário artístico e cultural. Instalado na capital francesa, Miró ficou
particularmente interessado nas experiências surrealistas de exploração do
inconsciente. "Ele foi o mais surrealista de todos nós", chegou a
dizer o líder inconteste do movimento, o escritor André Breton.
Mais tarde, ao
recordar esse período de sua vida, em que alternava os verões em Montroig e os
invernos em Paris, o próprio Miró diria que havia uma diferença básica entre
eles e os colegas ligados ao surrealismo. Enquanto estes utilizavam substâncias
artificiais para "abrirem livremente as portas da percepção", seu
principal canal com o mundo da alucinação e do delírio era mesmo a fome.
"Eu voltava tarde
da noite para casa e, por falta de dinheiro, não jantava. Assim, rabiscava no
papel as sensações que a fome provocava em meu organismo", revelaria. Sem
conseguir vender um número suficiente de quadros que lhe permitisse uma vida
apenas razoavelmente digna, Miró chegou a enfrentar o rigoroso inverno de 1925
tiritando de frio, pois não tinha recursos para sequer mandar consertar o
aquecedor que estava quebrado.
Um contrato com o
negociante de quadros Jacques Viot tirou-lhe dos tempos de penúria extrema. Em 1928,
Miró aproveitou os melhores ventos e viajou para a Holanda, em busca de novas
fontes de inspiração. No ano seguinte, casou-se com Pilar Juncosa, que lhe
daria a única filha, Dolores, e com quem passaria a morar em Paris e,
posteriormente, na Espanha. O artista levou uma vida sossegada, dedicado
integralmente à família e à arte, até o momento em que o fantasma da Guerra
Civil Espanhola exigiu-lhe uma tomada de posição.
Contrariado, Miró
trocou novamente a Espanha pela França, mas participou ativamente da luta pela
liberdade de seu país. Pintou cartazes de propaganda política e idealizou o
painel "O Ceifeiro", que seria apresentado ao lado do célebre
"Guernica", de Pablo Picasso, no pavilhão espanhol da Exposição
Internacional de Paris.
Quando estourou a
Segunda Guerra Mundial, Miró viu-se forçado a deixar novamente a França, em
1940, diante da iminência da ocupação nazista em Paris. Depois de uma temporada
em Maiorca, retornou a Barcelona, em 1942. Nesse momento, o artista confessou
por mais de uma vez que estava desiludido com os rumos da vida na Europa e
temeu a vitória de Hitler. São desse período algumas de suas obras mais líricas
e famosas, as que compõem a série "Constelações", na qual parece
conjurar céus inteiros para se sobrepor à fúria cega desencadeada pela guerra.
Miró e sua arte
sobreviveram ao conflito e ganharam reconhecimento internacional definitivo nas
décadas seguintes. Morreu em Palma de Maiorca, Espanha, em 25 de dezembro de
1983, aos 90 anos, rico e bem-sucedido, celebrado em todo mundo como um dos
maiores artistas do século 20.
Carnaval de Arlequim (1924-1925)
Trabalho da fase surrealista de Miró, fruto
das alucinações provocadas pela fome.
Série de pinturas que Miró, após uma viagem a
Holanda, fez livremente inspirado em obras realistas de artistas daquele país.
Constelações (1941)
Série de 23 telas pintadas no período da
Segunda Guerra Mundial.