Francisca Edwiges
Neves Gonzaga, mais conhecida como Chiquinha Gonzaga (Rio de Janeiro, 17 de
outubro de 1847 — 28 de fevereiro de 1935) foi uma compositora, pianista e
regente brasileira.
Foi a primeira
pianista de choro, autora da primeira marcha carnavalesca ("Ô Abre
Alas", 1899), introdutora
da música popular nos salões elegantes, fundadora da primeira sociedade
protetora dos direitos autorais e também a primeira mulher a reger uma
orquestra no Brasil. No Passeio Público do Rio de Janeiro, há uma herma em sua
homenagem, obra do escultor Honório Peçanha. Em maio de 2012 foi sancionada a
Lei 12.624 que instituiu o Dia Nacional da Música Popular Brasileira, a ser
comemorado no dia de seu aniversário.
Era filha de José
Basileu Gonzaga, general do Exército Imperial Brasileiro e de Rosa Maria Neves
de Lima, uma negra muito humilde. Apesar de opiniões contrárias da família,
casou-se após o nascimento da menina Francisca. Chiquinha Gonzaga foi educada
numa família de pretensões aristocráticas (seu padrinho era Luís Alves de Lima
e Silva, o Duque de Caxias). Ela conviveu bastante com a rígida família do seu
pai. Fez seus estudos normais com o Cônego Trindade, um dos melhores
professores da época, e musicais com o Maestro Lobo, um fenômeno da música.
Desde cedo, frequentava rodas de lundu, umbigada e outros ritmos oriundos da
África, pois nesses encontros buscava sua identificação musical com os ritmos
populares que vinham das rodas dos escravos.
Inicia, aos 11 anos,
sua carreira de compositora com uma música natalina, Canção dos Pastores. Aos
16 anos, por imposição da família do pai, casou-se com Jacinto Ribeiro do
Amaral, oficial da Marinha Imperial brasileira e logo engravidou. Não
suportando a reclusão do navio onde o marido servia, (já que ele passava mais tempo
trabalhando no navio do que com ela) e as ordens dele para que não se
envolvesse com a música, além das humilhações que sofria e o descaso dele com
seu sonho, Chiquinha, após anos de casada separou-se, o que foi um escândalo na
época.
Leva consigo somente
o filho mais velho, João Gualberto. O marido, no entanto não permitiu que
Chiquinha cuidasse dos filhos mais novos: Sua outra filha, Maria do Patrocínio
e do filho, o menino Hilário, ambos frutos daquele matrimônio. Ela lutou muito
para ter os 3 filhos juntos, mas foi em vão. Sofreu muito com a separação
obrigatória dos 2 filhos imposta pelo marido e pela sociedade preconceituosa
daquela época, que impunha duras punições à mulher que se separava do marido.
Chiquinha Gonzaga aos 78 anos
Anos depois, em 1867,
reencontrou seu grande amor do passado, um namorado de juventude, o engenheiro
João Batista de Carvalho, com quem teve uma filha: Alice Maria. Viveu muitos
anos com ele, mas Chiquinha não aceitava suas traições. Separa-se dele, e mais
uma vez perde uma filha. João Batista não deixou que Chiquinha criasse Alice,
ficando com a guarda da filha. Apesar disso tudo, Chiquinha foi muito presente
na vida de todos os seus quatro filhos, mesmo só criando um deles. Ela sempre
estava acompanhando a vida deles e tendo contato.
Ela, então, passa a
viver como musicista independente, tocando piano em lojas de instrumentos
musicais. Deu aulas de piano para sustentar o filho João Gualberto e mantê-lo
junto de si, sofrendo preconceito por criar seu filho sozinho. Passando a
dedicar-se inteiramente a música, onde obteve grande sucesso, sua carreira
aumentou e ela ficou muito famosa, tornando-se também compositora de polcas,
valsas, tangos e cançonetas. Antes, porém, uniu-se a um grupo de músicos de
choro, que incluía ainda o compositor Joaquim Antônio da Silva Callado,
apresentando-se em festas. A estreia como compositora se deu em 1877, com a
polca Atraente, composta de improviso durante roda de choro em casa do
compositor Henrique Alves de Mesquita e publicada pela Viúva Canongia, Grande
Estabelecimento de Pianos e Músicas.
Em 1889 promoveu e
regeu, no Teatro São Pedro de Alcântara, um concerto de violões, instrumento
estigmatizado àquela época. Foi uma ativa participante do movimento pela
abolição da escravatura, vendendo suas partituras de porta em porta a fim de
angariar fundos para a Confederação Libertadora. Com o dinheiro arrecadado na
venda de suas músicas comprou a alforria de José Flauta, um escravo músico.
Chiquinha Gonzaga também participou da campanha republicana e de todas as
grandes causas sociais do seu tempo. Já era uma artista consagrada quando
compôs, em 1899, a primeira marcha- rancho, Ó Abre Alas, verdadeiro hino do
carnaval brasileiro.
Em setembro de 1917,
após anos de campanha, liderou a fundação da SBAT, sociedade pioneira na
arrecadação e proteção dos direitos autorais.
Aos 52 anos, após
muitas décadas sozinha, mas vivendo feliz com os filhos e a música, conheceu
João Batista Fernandes Lage, um jovem cheio de vida e talentoso aprendiz de
musicista, por quem se apaixonou. Ele também se apaixonou perdidamente por essa
mulher madura que tinha muito a ensinar-lhe sobre música e sobre a vida. A
diferença de idade era muito grande e causaria mais preconceito e sofrimento na
vida de Chiquinha, caso alguém soubesse do namoro. Ela tinha 52 anos e João
Batista, apenas 16. Temendo o preconceito, fingiu adotá-lo como filho, para
viver o grande amor. Esta decisão foi tomada para evitar escândalos em respeito
aos seus filhos e à relação de amor pura que mantinha com João Batista, da qual
pouquíssimas pessoas na época entenderiam, além de afetar sua brilhante
carreira. Por essa razão também, Chiquinha e João Batista Lage, ou Joãozinho,
como carinhosamente o chamava, mudaram-se para Lisboa, em Portugal, e foram
viver felizes morando juntos por alguns anos longe do falatório da gente do Rio
de Janeiro. Os filhos de Chiquinha, no começo, não aceitaram o romance da mãe,
mas depois viram com naturalidade. João Batista Lage aprendeu muito com
Chiquinha sobre a música e a vida. Eles retornaram ao Brasil sem levantar
suspeita nenhuma de viverem como marido e mulher. Chiquinha nunca assumiu de
fato seu romance, que só foi descoberto após a sua morte através de cartas e
fotos do casal. Aos 85 anos de idade escreveu a última partitura, Maria, com
libreto de Viriato Corrêa. Sua obra reúne dezenas de partituras para peças
teatrais e centenas de músicas nos mais variados gêneros: polca, tango
brasileiro, valsa, habanera, schottisch, mazurca, modinha etc. Ela morreu aos
87 anos de idade, ao lado de João Batista Lage, seu grande amigo, parceiro e
fiel companheiro, seu grande amor, em dia 28 de fevereiro de 1935, no Rio de
Janeiro, quando começava o Carnaval.
DADOS CRONOLÓGICOS
1847 - Nasce no Rio de
janeiro a 17 de outubro.
1863 - Casa-se com Jacinto
Ribeiro do Amaral.
1864 - Nasce seu primeiro
filho: João Gualberto.
1865 - Nasce sua filha
Maria.
1866 - Embarca com o marido
no navio São Paulo, por este fretado, que transporta tropas para a Guerra do
Paraguai.
1869 - É homenageada pelo
compositor Joaquim Antônio Callado com a polca "Querida por todos".
1870 - Nasce seu terceiro
filho, Hilário.
1875 - Nasce Alice, sua
filha com o engenheiro João Batista de Carvalho. Sofre processo de divórcio
movido pelo marido no Tribunal Eclesiástico.
1877 - Primeira obra
editada: a polca Atraente, que em nove meses chega à 15ª edição.
1879 - Começa a
instrumentar, com autodidatismo.
1880 - Anuncia-se
publicamente como professora de várias matérias.
1883 - Tentativas frustrada
de musicar libreto de Arthur Azevedo (a produção teatral não aceita uma mulher
como autora da música).
1885 - Estreia como
maestrina.
1888 - Extinção da
escravidão no Brasil, pela qual durante tantos anos Chiquinha Gonzaga lutara.
1889 - Proclamação da
República, outro anseio da compositora.
1890 - Nasce a primeira
neta.
1891 - Falecimento do pai.
1897 - Falecimento de Rosa,
sua mãe.
1899 - Carnaval. Compõe Ó
Abre Alas. Conhece João Batista, jovem português de 16 anos que seria seu
companheiro até o fim da vida.
1902 - Viaja para a Europa.
1904 - Segunda viagem à
Europa.
1906 - Instala-se em
Portugal.
1909 - Retornos ao Brasil.
1911 - Inicia intensa
atividade musicando peças teatrais para os espetáculos por sessões dos cineteatros
da Praça Tiradentes (RJ).
1912 - Estreia Forrobodó,
seu maior sucesso teatral.
1913 - Deflagra campanha em
defesa pelo direito autoral dos compositores e teatrólogos.
1914 - Lançamento, com
grande sucesso, do tango Corta-Jaca.
1917 - Participa da
fundação da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais.
1919 - Grande êxito da peça
de costumes regionais Juriti.
1925 - Recebe homenagens
consagradoras da SBAT e reconhecimento do país inteiro.
1928 - Seu filho João
Gualberto morre em São Paulo.
1933 - Aos 85 anos, escreve
sua última partitura para teatro: Maria.
1934 - Falecimento da filha
Maria.
1935 - Morre no dia 28 de
fevereiro. Dois dias depois realiza-se o primeiro concurso oficial das escolas
de samba.
Fonte:
http://www.chiquinhagonzaga.com/biografia.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Chiquinha_Gonzaga
Verbete biográfico e dados cronológicos
retirados do livro "Chiquinha Gonzaga: uma história de vida", escrito
por Edinha Diniz, em nova edição revista e atualizada. Jorge Zahar Editora,
2009.
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