domingo, 24 de março de 2013

Leitura de Imagens



Ler imagens é uma habilidade muito importante e que, muitas vezes, não é levada à sério. Muita gente acha que VER uma imagem é só olhar pra ela por alguns poucos segundos. É muito comum pessoas comentarem, por exemplo: "Fui ao Louvre e vi a Monalisa". Será que viu mesmo? Ou será que passou perto dela e bateu os olhos rapidamente? VER de verdade dispende reflexão, tempo. VER de verdade é muito mais que só bater os olhos na imagem.

CINCO OLHARES AO APRECIAR UMA OBRA DE ARTE

Primeiro olhar: ver, ouvir, tocar.
Segundo: perceber os elementos formais que predominam (cor, linha, textura)
Terceiro: perceber os elementos intelectuais que predominam – ritmo, equilíbrio.
Quarto: perceber os elementos vivenciais que predominam (título, tema, contexto, vida do artista, localização no tempo histórico e no espaço).
Quinto: a obra como um todo, construindo a sua interpretação inicial.

TIPOS DE LEITURA E PERGUNTAS GERADORAS

As perguntas mais importantes que devemos nos fazer pra ler uma imagem são:
*      O que podemos ver?
*      É sobre o quê?
*      O que ela diz para cada um de vocês?
*      Qual é a relação da obra com o mundo?

Toda obra de arte, seja pintura, escultura, vídeo ou fotografia, por exemplo, tem em si suas próprias qualidades. Estas nos darão informações quando estivermos lendo uma imagem. Para entendermos essas qualidades precisamos olhar para as características formais da obra, em termos de linhas, tons, cores, espaço e massa, por exemplo. Ao olharmos para suas propriedades físicas, como para seus materiais e processos, aprofundaremos nossa compreensão do objeto artístico. Os materiais da arte moderna abrem espaço para um arranjo ilimitado de cores, texturas e tipos de pintura. Os artistas saíram de um tempo em que os pigmentos ditavam as cores que eles deveriam usar. Os materiais escultóricos e suas técnicas seguiram os mesmos caminhos. No começo do século XX, artistas como Marcel Duchamp apresentavam em galerias, de maneira simples e corriqueira, objetos comuns como obras de arte. Desde então os artistas passaram a ter liberdade para usar muitos tipos de materiais, possibilitando a realização da arte moderna de acordo com as idéias de sua cabeça. A arte contemporânea pode ser feita praticamente de qualquer coisa – filme e vídeo, objetos achados, comida, móveis – materiais cuja história e associações que possamos fazer afetam nosso entendimento da obra.

LEITURA FORMAL

Cores
Que cores o artista usou? Por que vocês acham que ele usou essas cores?
Como essas cores estão organizadas? Quais efeitos elas criam?
Formas
Que tipo de formas vocês podem encontrar na obra? Formas arredondadas, retas, pontiagudas, pontilhados? Quais efeitos elas criam?
Símbolos
Que tipo de marcas e símbolos o artista usa? Quais efeitos elas tem? Eles fazem parte da nossa cultura? O que significam?
Superfície
Com o quê a superfície parece? Que tipos de texturas podemos ver? Quais efeitos elas criam?
Escala
Qual é o tamanho real dessa obra? Ela é grande? Suas dimensões originais são muito diferentes das dimensões da reprodução que estamos vendo?
Faria alguma diferença se ela fosse maior ou menor? Será que há algum motivo para o artista ter escolhido esse tamanho?
Espaço
Podemos encontrar na obra sensação ou ilusão de espaço ou profundidade? Há preocupação com isso?
Como as formas são colocadas no espaço? Há simetria?
Como é o movimento das formas no espaço?
Materiais
Com que materiais essa obra foi feita? São materiais tradicionais ou “encontrados”? Como seria nossa reação diante a obra se o artista tivesse usado materiais diferentes? Quais associações ou conotações os materiais usados carregam?
Vocês são capazes de identificar todos os materiais usados pelo artista olhando para a reprodução?
Processo
Como essa obra foi feita? Foi o artista que a fez ou ela foi fabricada? Que tipo de habilidade esteve envolvido no processo de produção da obra? Aconteceram fortes mudanças ao material enquanto a obra foi feita?
Conseguimos ver na obra pronta indícios de seu processo de construção?
Composição
Como a obra está organizada? Como é a proporção dos elementos apresentados? A obra apresenta semelhanças ou contrastes?
As formas no espaço parecem seguir uma organização ou estão desorganizadas?

LEITURA TEMÁTICA

Conteúdo
O que é a obra? Ela é sobre o quê? O que está acontecendo? Podemos imaginar um enredo? A obra foi inspirada em alguma obra literária (literatura mundial, nacional, mitológica, religiosa etc.)?
Mensagem
Depois de fazer uma descrição atenta da obra, o que podemos especular sobre o que o artista quis dizer? Que tipo de mensagem ele tentou passar? O que esta obra representa?
Título
O que o artista quis dizer com esse título? Ele muda o jeito como vocês vêm a obra? Vocês dariam outro título para ela?
Tema
Qual é o tema desse trabalho? Ele apresenta mais de um tema? Qual será que foi a inspiração do artista para fazer essa obra?
Tipo / Gênero
Há alguma relação dessa obra com os gêneros tradicionais da História da pintura (mesmo que a obra em questão não seja uma pintura), como por exemplo, o nu, a paisagem, o retrato ou a pintura de natureza morta?

LEITURA PESSOAL:

Você
Qual foi sua primeira reação com a obra de arte? O que fez você sentir ou pensar assim?
Você gostou da obra à primeira vista?
Seu mundo
A obra te fez lembrar-se de quê? Porque isso te fez lembrar daquilo?
Você consegue fazer alguma relação entre o que vê e sua vida?
Ela representa algo que é importante para você?
Suas experiências
Você pode conectar a obra a quê? Você já foi há algum lugar como este que é mostrado pelo artista?

LEITURA CONTEXTUALIZADA:

Quando
Quando essa obra foi feita? Podemos fazer alguma conexão entre a obra e o período em que ela foi feita? Ela mostra alguma ação que era comum há uma época e que já não acontece mais?
As roupas das pessoas retratadas representam a época que a obra foi feita? Qual é a relação dessas roupas com as roupas que usamos atualmente?
Onde
Onde essa obra foi feita? O que a obra pode nos dizer sobre o lugar que ela foi feita? Há alguma característica na obra que nos ajuda a encontrar sua nacionalidade?
Quem
Quem fez essa obra? O que nós sabemos sobre esse artista? Há alguma relação ao modo de vida do artista com a obra que ele fez? Essa obra foi importante para o artista ou foi somente uma encomenda?
Essa obra foi feita pra quê? Pra quem?
História
Podemos relacionar essa obra ao contexto social e político do momento histórico em que foi feita?
Ela ainda é atual? Pode ser relacionada ao contexto social e político de hoje?
Outras linguagens
Podemos relacionar essa obra com obras de outras linguagens artísticas do período, como cinema, música, teatro, literatura ou design, por exemplo?
Outras áreas do conhecimento
Podemos relacionar essa obra com outras áreas do conhecimento, como por exemplo, a ciência, geografia, matemática, ecologia?
O artista estava relacionado a algumas dessas áreas?
O presente
Como as pessoas olham para essa obra hoje em dia? É igual ou diferente de quando ela foi originalmente vista?
Essa obra é considerada importante ou valiosa?
A obra no espaço
Em que museu ou coleção está essa obra? Ela está colocada em posição de destaque?
Algum de vocês já viu essa obra pessoalmente?
Interpretação
Como as informações recebidas pelo professor e pesquisadas pelos alunos afetam a experiência com a obra? Vocês sentiriam a mesma coisa se não tivessem essas informações?


Fonte:
http://prosalunos.blogspot.com.br/2012/02/leitura-de-imagens.html
http://www.portalportinari.com.br/dw/estude.com/resumo_99_leitura_de_imagem.pdf

sábado, 23 de março de 2013

A Liberdade Guiando o Povo - Eugène Delacroix



“A Liberdade Guiando o Povo”, de Delacroix, pintada em 1830.

A obra “A Liberdade Guiando o Povo” foi pintada por Eugène Delacroix no mesmo ano em que ocorreu o conflito que a inspirou: a Revolução Francesa de 1830. Apesar de simpatizar com as ideias liberais, Delacroix não participou efetivamente do levante.

Contexto Histórico

Após a queda de Napoleão Bonaparte, as principais potências europeias reuniram-se na chamada Santa Aliança, visando manter e resguardar a monarquia absolutista. Assim, o trono francês é restituído a família Bourbon, na figura do rei Luís XVIII. Após Luis XVIII, assumiu Carlos X, que toma uma série de medidas bastante impopulares, como suprimir a liberdade de imprensa e dissolver a Câmera dos Deputados. Em 27, 28 e 29 de julho de 1830, o povo francês e a burguesia realizam uma série de levantes e iniciam uma guerra civil. Chamados “os três dias gloriosos”, este é o conflito retratado por Delacroix em “A Liberdade Guiando o Povo”.
Carlos X abdica do trono, e em seu lugar assume Luís I, da casa de Órleans, uma ramo menor da Casa Bourbon. Luís I ficaria conhecido como o Rei Burguês. É o último rei a governar a França, tendo abdicado em 1848.

Análise da Obra

Destaques da obra “A Liberdade Guiando o Povo”:

• A liberdade: representada como uma deusa clássica, sinônimo de virtude e eternidade. No entanto, seus traços robustos são comuns ao povo francês. Empunha uma arma moderna – um mosquete.

• Os cadáveres: os mortos são membros da guarda de elite do rei. O realismo dos cadáveres é inspirado em obras de Antoine-Jean Gros, pintor que Delacroix admirava.

• O homem sem calças: outro fator que torna a obra complexa e ambígua é a presença deste cadáver desnudado, um homem desprovido de sua dignidade. Suas roupas foram furtadas, e provavelmente pelos revoltosos. Outros personagens do quadro apresentam-se com objetos roubados dos cadáveres. Assim, mesmo entre aqueles que lutam pela liberdade, há atitudes censuráveis. Delacroix não se esforça para “higienizar” o conflito ou torna-lo mais nobre. A guerra, em si, parece-lhe indigna.

• As bandeiras: duas bandeiras são retratadas no quadro, uma empunhada pela liberdade, e outra sobre a Catedral de Notre Dame. A bandeira tricolor foi utilizada na Revolução Francesa de 1789 e nas guerras de Napoleão. Após a derrota deste em Waterloo, a bandeira não foi mais utilizada. O regresso deste símbolo é carregado de emoção, como se o povo reconquistasse o seu orgulho.

• O campo de batalha: o centro da revolução de 1830 foi a Ponte d ‘Arcole, e provavelmente este é o cenário da pintura. Porém, nenhum posto de observação permite esta vista de Notre Dame. Como outros pintores românticos, Delacroix abdica de uma fidelidade literal aos fatos em prol de um maior efeito dramático. Converte acontecimentos contemporâneos em imagens míticas.

• A composição: é uma composição clássica, piramidal, em que a liberdade ocupa o vértice da pirâmide. O mosquete com baioneta que a liberdade empunha cria uma linha paralela com a arma segurada pela criança. No restante do quadro, várias linhas diagonais trazem dinamismo à composição.

• As cores: as cores vivas da bandeira auxiliam o destaque para a mulher que simboliza a liberdade. Nota-se que o vermelho da bandeira está sobre o céu azul, o que o salienta ainda mais. As cores se repetem nas roupas do trabalhador aos pés da liberdade. As vestes da liberdade são pintadas em um tom mais claro do que aqueles encontrados no restante da pintura, facilitando o sentido de leitura.

• A luz: Delacroix dominava a técnica do chiaroscuro. Estes fortes contrastes de luz e sombra conferem maior dramaticidade à cena. Na paisagem, a luz do entardecer se mistura a fumaça dos canhões, dissolvendo-se em um brilho marcante.

• A pincelada: as pinceladas de Delacroix são visíveis na tela, o que contraria as regras acadêmicas que determinam que a pincelada deve ser “invisível”.

Ficha Técnica

A Liberdade Guiando o Povo
Autor: Eugène Delacroix
Ano: 1830
Técnica: óleo sobre tela
Tamanho: 260cmx325cm
Museu: Museu do Louvre, Paris

A obra “A Liberdade Guiando o Povo”, pintada por Eugène Delacroix, artista do romantismo francês, homenageia a revolução francesa de 1830. Delacroix não participou do levante. Na verdade, permaneceu em seu apartamento, com medo de sair às ruas de Paris. Para realizar “A Liberdade Guiando o Povo”, é provável que tenha se inspirado em gravuras do conflito, especialmente no trabalho de Nicolas Charlet.
Delacroix pintou “A Liberdade Guiando o Povo” rapidamente, em pouco mais de três meses, logo após a revolução de 1830. A obra foi exposta no Salão de 1831. Apesar do tom grandiloquente próprio das pinturas do romantismo, certos detalhes de “A Liberdade Guiando o Povo” constrangeram o público da época.
As pinturas de guerra eram, comumente, apresentadas de forma mais “asséptica” do que na pintura de Delacroix. Em “A Liberdade Guiando o Povo”, a sujeira e fumaça presentes no quadro não ocultam características desonrosas do conflito: o homem sem calças, desprovido de dignidade, e os objetos furtados da guarda real pelos revolucionários – a boina do homem à esquerda ou a bolsa do rapaz empunhando as pistolas, à direita da composição.
“A Liberdade Guiando o Povo” foi adquirida pelo Estado francês por 3 mil francos e devolvida ao artista, que a deixou na casa de campo de uma tia. Durante muito tempo, evitou-se expor “A Liberdade Guiando o Povo” publicamente. Foi somente em 1874 que o quadro foi adquirido pelo Louvre, e exposto com honrarias.



Fonte:
http://abstracaocoletiva.com.br/2013/03/01/liberdade-guiando-o-povo-tema/
http://abstracaocoletiva.com.br/2012/11/03/analise-liberdade-guiando-o-povo-delacroix/
http://abstracaocoletiva.com.br/2013/03/01/liberdade-guiando-o-povo-ficha-tecnica/